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Os Jogos e a Aprendizagem Baseada no Cérebro

Os Jogos e a Aprendizagem Baseada no Cérebro
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Quem me conhece sabe o quanto gosto de usar técnicas de jogos e gamificação nas minhas aulas, para aumentar o engajamento dos estudantes, e tornar o aprendizado mais interessante e significativo. Hoje estou como professor de Biologia na rede pública de ensino e também a frente de uma Edtech especializada em gamificar aulas e processos de aprendizagem, a Iniciativa Divulgadores.

Muito do que costumo encontrar de resistência por parte dos professores mais tradicionais em relação a essas metodologias é que, para eles, tudo não passa de apenas uma brincadeira. Mas, para aqueles que se dedicam e se debruçam sobre teorias acerca da Gamificação e do Game-Based Learning, estas estratégias de ensino fazem muito sentido.

Neste post, tenho a intenção de pontuar a validade da utilização de games no ensino, para que você não apenas perca o medo de usar essas estratégias em sala, mas também possa ter mais argumentos para refutar aqueles que insistem em achar que gamificação é sinônimo puro e simples de uma brincadeira. Para isso vou utilizar as percepções do Brain Based Learning, que pode ser traduzido como aprendizado baseado no cérebro, ou, como recentemente vem sendo chamado, neuroaprendizagem.

O Brain-Based Learning

Um dos maiores desafios da ciência moderna é entender como o cérebro funciona, e, além disso, como o aprendizado acontece em vias anatômicas, fisiológicas, celulares e, até mesmo moleculares.

Um fato interessante que gostaria de abordar sobre o BBL é que, em 1990, os professores e pesquisadores dos processos neurais do aprendizado, Renate Nummela Caine e Geoffrey Caine, propuseram doze princípios para o Brain-Based Learning, e é baseado nisso que farei minhas considerações.

Vamos então à discussão do papel da gamificação e dos jogos no ensino dentro de cada um destes princípios, e para isso dividirei este artigo em três posts. Neste, vou tratar dos quatro primeiros princípios. Os demais ficam para uma segunda e terceira postagens.

Princípio 01: O Cérebro é um Processador em Paralelo

O cérebro trabalha a todo momento em muitas funções paralelas simultaneamente. Isso é evidente. Quantas vezes você já flagrou seus alunos ou colegas de turma no Whatsapp ou no Instagram durante uma aula? Se um estímulo não for forte o suficiente, invariavelmente o cérebro vai se atentar a outro estímulo, deixando o primeiro em uma função paralela. É mais interessante ler sobre a fofoca da turma do que aprender para que serve um peroxissomo (que aposto, muitos de vocês que estão lendo não fazem nem ideia do que é).

E de que maneira a educação pode se valer deste conhecimento? Ora, os jogos são uma ótima ferramenta para orquestrar ambientes de aprendizagem que exijam dos estudantes a atenção, mas que também rivalizem com as distrações paralelas. Quando estruturo minhas aulas, propositadamente insiro elementos que façam com que os alunos fiquem imersos em todas as dimensões dentro da minha atividade. Aqui também podemos associar ao Flow, mas isso é história para outro post.

Princípio 02: O Aprendizado envolve a Fisiologia por completo

Qualquer coisa que possa afetar nossas funções fisiológicas, pode afetar nossa capacidade de aprender. Quantas vezes não ouvimos alunos reclamarem que foram mal em alguma prova porque ficaram nervosos, mas que sabiam todo o conteúdo? O papel da escola, e também do professor, seria, dentre outros, auxiliar os estudantes a lidarem com esse tipo de estresse, em um ambiente com tensão controlada.

Novamente, que maneira melhor de inserir elementos de tensão e estresse simulados se não com a utilização de jogos e seus elementos? O tempo para concluir um quest satisfatoriamente, o desafio de uma missão, a gestão de conflitos entre os membros de uma mesma equipe, são só alguns elementos que podem ser utilizados para mediar o desenvolvimento destas competências.

Princípio 03: A Busca por Significado é Inata

Aqui temos um ponto que pode parecer um pouco controverso. Mas sim, os jogos oferecem significado, mesmo que utilizemos de recursos narrativos ficcionais. Lembro-me muito bem de uma das minhas atividades mais solicitadas pelos alunos, sobre virologia. Nas aulas tradicionais, não posso dizer que este conteúdo fosse completamente desprezado pelos estudantes, já que em biologia conteúdos de educação sexual e doenças são os que mais chamam a atenção. Mesmo assim, era um interesse moderado.

Quando mudei a aula para um sistema gamificado em que os alunos precisavam estudar 52 tipos de vírus para descobrir a cura para um apocalipse zumbi, a proporção foi outra. É possível, e digo mais, é relativamente mais fácil atribuir significado para atividades curriculares utilizando métodos de gamificação.

Princípio 04: A Busca por Significado acontece pela “Padronização”

Ensinar conteúdos isolados, que não remetam a nenhum conhecimento prévio ou a algo que o estudante viveu, é praticamente inútil. Todo educador sabe disso. A busca por padrões é intrínseca ao cérebro humano. Nós evoluímos assim, para o bem e para o mal.

É por este motivo que a aprendizagem hands on, mão-na-massa, é tão eficaz. Mas não são todos os conteúdos que podemos estudar assim. Não vamos colocar os alunos em uma usina nuclear ou levar algum material radiativo para sala de aula a fim de explicar o que aconteceu em Chernobil. Por outro lado, um RPG (Role-Playing Game) funcionaria perfeitamente para isso.

 

Para não me estender demais, deixarei para falar dos demais princípios no próximo post. Caso não queira esperar, fica aqui a referência que estou utilizando neste artigo:

Caine, R. N., and Caine, G. (1990). Understanding a brain-based approach to learning and teaching. Educational Leadership, 48(2), 66-70.

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Sam Adam

Professor de Biologia, mestre em Ensino de Ciências e Tecnologia, Puzzle Master e Designer de Jogos de Aprendizagem na Iniciativa Divulgadores. Transformo aulas normais em experiências únicas utilizando Puzzle-Based Learning e Gamificação. Nas horas vagas curto ficção científica, rock e coxinha com catupiry.

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